A Renascença Psicodélica - BOX1824
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A Renascença Psicodélica
A Renascença Psicodélica l Box1824

Da saúde à moda, a influência da psicodelia começa a dar sinais de uma nova era. O movimento que chamamos de “renascença psicodélica” é desbloqueado de tempos em tempos à medida que o mundo passa por grandes transformações nos campos social e político. 

As estéticas ligadas a essa atmosfera alucinante dialogam com grandes transformações, como os movimentos juvenis dos anos 60 e a dissidência antiguerra do Vietnã nos anos 70. A moda trippy ressurgiu em 2021, bem como a estética da década de 1960, quando o Movimento dos Direitos Civis e a Libertação das Mulheres estavam em pleno andamento. (Fonte: Dazed)

Segundo a jornalista Sophie Wilson, para lidar com a sensação de desgraça que adveio das condições de vida durante a pandemia, inúmeras pessoas recorreram aos psicodélicos como cogumelos mágicos, trufas e ácidos para aliviar o estresse. 

Um estudo publicado no Frontiers in Psychiatry sugere que usuários de substâncias psicodélicas aceitam melhor situações angustiantes. Pesquisas recentes também começaram a explorar a terapia psicodélica como uma nova intervenção para depressão e ideação suicida. 

Em uma realidade complexa, a influência da psicodelia em diversos segmentos permite o otimismo e a esperança diante de um futuro incerto. Na saúde e no cuidado, pesquisadores apontam seus benefícios na cura e em tratamentos paliativos de diversas doenças. Na moda e no design, tal renascença nos concede uma reimaginação radical do mundo.

 

Da cura ao tabu

MDMA, cannabis e LSN nem sempre foram substâncias consideradas integralmente perigosas e inúteis. Historicamente, diversos doutores apontaram para as possibilidades de seu uso clínico. Mas, nos Estados Unidos, à época, o governo Reagan iniciava sua guerra às drogas.

Lawn, o então administrador da Drug Enforcement Administration, agiu rapidamente. Apesar do clamor de profissionais médicos apontando para a variedade de usos clínicos do MDMA, Lawn classificou a droga como Tabela 1, uma das muitas a serem banidas em uma reação contra psicodélicos como LSD e psilocibina. (Fonte: Universidade de Stanford)

Quase quatro décadas depois, os pesquisadores do Wu Tsai Neurosciences Institute de Stanford estão na vanguarda de uma mudança sísmica que está colocando os holofotes sobre um campo que já fora um tabu.

Os primeiros ensaios laboratoriais sugerem que o MDMA pode ajudar pacientes com PTSD (transtorno de estresse pós-traumático) a confrontar suas memórias traumáticas. Em outros estudos iniciais, a cetamina reduziu pensamentos suicidas e outros sintomas em pacientes com depressão clínica. A psilocibina também pode ajudar pessoas com depressão intratável, diminuindo os sintomas em alguns pacientes durante um ano ou mais, embora os dados aqui ainda sejam limitados. E muitos outros estudos e ensaios estão em andamento no campo. (Fonte: Stanford)

“Precisamos de mais pesquisas usando os mesmos métodos rigorosos aplicados a muitos outros compostos promissores para doenças mentais. Ao estudar a eficácia e os mecanismos, podemos ser mais precisos no desenvolvimento de melhores tratamentos com menos efeitos colaterais”, disse Carolyn Rodriguez, professora de psiquiatria e ciências comportamentais e coautora de uma declaração de posicionamento, aprovada em julho de 2022 pela American Psychiatric Association, sobre o uso de agentes psicodélicos e empatogênicos no tratamento de doenças mentais.

Com a popularidade de substâncias que produzem efeitos alucinógenos, entre outras, como a cannabis, ganhando destaque na mídia, diversos mitos surgem em torno de sua eficácia. A Health News publicou um artigo sobre o aumento do seu uso em tratamentos e sua ação neurobiológica.

Reprodução: Health News

Uma viagem psicodélica com escalas globais

 

Ainda que essas substâncias sejam legalizadas em diversos países e estejam sendo usadas para além do setor da saúde, no Brasil avançamos – ainda que lentamente – na regulação do plantio da cannabis para fins medicinais. 

Segundo Marta Machado, Secretária Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça, o atual governo pretende regular seu plantio no país para substituir a importação de seus produtos. (Folha de São Paulo) 

 

Importação de produtos à base de cannabis

Fonte: Avisa l Reprodução da Folha de São Paulo

No Brasil temos 24 produtos medicinais à base de cannabis que são legalizados. Contudo, em comparação às legislações e aos mercados internacionais, ainda temos longas batalhas a travar. Uma startup brasileira, a PucMed, está se preparando para essa mudança de cenário. 

O desejo de Alfonso Cardozo, CEO da PucMed, é ser o primeiro produtor de cannabis listado na B3 (a bolsa de valores brasileira). Porém, enquanto não é permitida a produção no Brasil, a PucMed segue como uma empresa binacional com sede administrativa em Curitiba e produção na Zona Franca de Florida, no Uruguai.

“O mercado tem se mostrado positivo com os retornos da área médica e com a resposta da população. Na pandemia, o aumento de casos de ansiedade, depressão e burnout aumentou os testes de medicamentos com cannabis para aplacar essas patologias. O consumo e as exportações estão maiores. A oportunidade é agora”, disse Ferretjans em entrevista à Forbes.

Com a renascença psicodélica, diversos grupos de pesquisa têm obtido resultados pelo mundo. Um deles é a Small Pharma, de Londres, que realizou pesquisas clínicas inovadoras sobre a eficácia do psicodélico N,N-Dimetiltriptamina (DMT) contra o Transtorno Depressivo Maior (MDD).

A Technology Networks entrevistou o fundador e CEO da Small Pharma, Peter Rands, a respeito dos principais benefícios da DMT em relação a outros alucinógenos, além dos achados do estudo. Em um trecho da entrevista, Peter comentou:

“O DMT oferece uma experiência mais imersiva do que a do LSD ou da psilocibina – embora por um período muito mais curto. Uma experiência DMT típica dura menos de 30 minutos, enquanto uma experiência com psilocibina pode se estender por cinco ou seis horas.

Nós interpretamos esse efeito aparentemente mais curto como altamente relevante para a implementação, no mundo real, dessas terapias, caso alcancem a aprovação do mercado. Prevemos que uma sessão de terapia assistida com DMT pode durar menos de 2 horas, em comparação com uma sessão de terapia assistida com psilocibina, de 8 horas. Acreditamos que isso pode proporcionar mais comodidade tanto para o profissional de saúde quanto para o paciente.”

Neal M. Goldsmith, Ph.D., é um psicoterapeuta de Nova York especializado em desenvolvimento psicoespiritual e autor e palestrante sobre psicoterapia psicodélica, inovação, mudança e o futuro pós-moderno da sociedade. Além disso, é curador e anfitrião de conferências sobre ciência e política inovadoras e autor de Psychedelic Healing: The Promise of Entheogens for Psychotherapy and Spiritual Development (Inner Traditions, 2011).

Neal Goldsmith, psicólogo, em seu consultório Getty George Konig.

 

Suas consultas duram 90 minutos e custam 300 dólares. Goldsmith tem a agenda cheia; não é fácil encontrar um psicólogo com 25 anos de experiência em drogas alucinógenas. Os clientes não podem ir às sessões sob o efeito das substâncias, já que tratá-los nessas circunstâncias é ilegal. No entanto, Goldsmith fica à disposição para recebê-los no dia seguinte ao consumo dos psicodélicos (como cogumelos, LSD etc.). “A integração é primordial. As pessoas não obtêm os benefícios das viagens alucinantes enquanto estão sendo afetadas por elas, mas, sim, quando são capazes de integrar a aprendizagem à vida cotidiana”. O psicoterapeuta criou um grupo de “integração psicodélica” como parte do programa da organização Sociedade do Brooklyn para a Cultura Ética, além de realizar oficinas de “cura psicodélica”. (Fonte: El País)

No Brasil, a viagem pelo universo do potencial desses agentes ainda passa por muito tabu. E muitas decisões legislativas foram atrasadas por conta de uma ala governamental conservadora. A expectativa é que, para além da produção cultural e das festas, a cannabis e outras substâncias alucinógenas ganhem ainda mais espaço nos fóruns de discussão.

Road Trippy: um futuro alucinante para diversos segmentos

A cannabis e os psicodélicos já são realidade em diversos países e segmentos. Além da sua conexão com a saúde, essas substâncias já atribuem valor a bens de consumo e contribuem com a inovação na arquitetura e no urbanismo, além de oferecerem benefícios no ramo da alimentação. 

No Brasil, o Instituto Alma Viva é um hub de ensino, inovação e tratamento com foco no uso de alucinógenos e nos cuidados com a saúde mental no Brasil. O espaço acolhe familiares e pacientes que encaram quadros extremamente desafiadores, como de câncer, depressão, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade existencial e dependência química. Tais grupos tiveram uma perspectiva de melhora quando foram submetidos às terapias de forma cuidadosa.

Todos os tratamentos oferecidos possuem embasamento na legislação brasileira, seja por meio de autorizações especiais ou do desenvolvimento de protocolos clínicos aprovados.

Nos Estados Unidos, com a exploração contínua dos efeitos psicoativos de plantas e botânicos em alimentos e bebidas, a marca de bebidas Amass criou uma bebida que dizem espelhar o efeito de um “coquetel forte”. Abraçando os benefícios das infusões de cannabis, seu novo espírito não alcoólico, Afterdream, combina CBD, THC e Delta-8 com oito terpenos e 14 botânicos, incluindo sumagre, menta e alecrim.

Amass l Foto de divulgação oficial.

Ao usar o CBD – ingrediente normalmente associado ao setor de saúde e bem-estar –, a Amass está expandindo seus esforços para preencher a lacuna entre o autocuidado e os rituais sociais. Morgan McLachlan, mestra destiladora da marca, diz: “Com o Afterdream, queríamos tratar a cannabis como mais um botânico em nosso universo, mergulhando profundamente na cultura da cannabis e nos esforçando para entender as nuances da planta: seus efeitos, suas cepas, seus terpenos”. 

Embora a categoria CBD esteja em ascensão há alguns anos, infiltrando-se em alimentos, bebidas e até produtos de beleza, pesquisas recentes comprovam sua eficácia contínua no impulsionamento das vendas ao consumidor – com crescimento notável na categoria de álcool com gás. (Fonte: The Future Laboratory)

Nos segmentos de luxo e estética, a Cygalle possui um Kit de Ritual de Pele de Cânhamo Enriquecido com Phytocannabinoid. Ela também oferece diversos outros produtos para uma rotina de cuidados com a pele. A marca de luxo holística cria de tudo, desde máscaras de terra a hidratantes para as mãos. O Cygalle o2 Earth Masque é feito com lama proveniente do renomado Mar Morto, lavanda calmante e, claro, cânhamo rico em fitocanabinóides. 

Cygalle l Foto de divulgação.

Independentemente do nicho, o avanço, na pauta legislativa, da legalização da maconha abre caminho para que o Brasil participe de outros fóruns de pesquisas, discussões e inovações. Há um futuro com muita demanda de produtos e soluções menos agressivos e mais naturais, que integrem saúde e bem-estar nos campos físico, mental e emocional das pessoas.