#CoisaDePreto: Um estudo sobre a real jornada dos afroempreendedores brasileiros - BOX1824
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#CoisaDePreto: Um estudo sobre a real jornada dos afroempreendedores brasileiros

Em nova parceria, a Box1824 e Google, realizaram um estudo sobre a real jornada dos afroempreendedores brasileiros.

Constatamos que o empreendedorismo não é apenas uma maneira das pessoas ganharem dinheiro, mas é, sobretudo, uma atividade que lhes dá a oportunidade de modificarem as suas vidas. No imaginário popular, a maior parte das pessoas pensam que empreender é uma receita que aponta para um horizonte de sucesso, mas não foi isso que descobrimos ao olharmos as dificuldades e urgências do empreendedor negro na prática: enquanto o branco busca empreender com visão de negócios e, mesmo antes de começar, já se enxerga como empresário, os negros encontram no empreendedorismo uma via para garantir a existência de muitas famílias brasileiras.

Para ter uma compreensão mais aprofundada da realidade e das demandas dos empreendedores negros no Brasil, realizamos entrevistas em grupos mistos de pessoas brancas e negras (pretas e pardas segundo o critério de autodeclaração do IBGE) para saber mais sobre suas principais dores, demandas e necessidades ao longo da jornada do empreendedorismo. Além disso, realizamos uma etapa de pesquisa quantitativa, aplicada através de painel online de autoaplicação com 1.000 empreendedores de todo o Brasil, sendo 500 deles brancos e 500 negros.

Da maioria dos afroempreendedores que possuem o seu negócio como única fonte de renda, quase 65% trabalhavam com carteira assinada antes de decidirem abrir seu próprio negócio. Contudo, a experiência negativa com o mercado de trabalho, impulsionada pela falta de oportunidades para exercer cargos de liderança, falta de valorização, racismo e discriminação se tornaram fatores decisivos na hora de trocar o emprego formal pelo negócio próprio.

A relação no mercado de trabalho ainda é mais difícil para as mulheres negras: 40% delas disseram que a decisão de empreender está relacionada a experiências ruins que tiveram enquanto funcionárias de uma empresa ou instituição.

É importante reforçar que se tornar empreendedor(a) não elimina o racismo estrutural que essas pessoas enfrentam, mas é uma decisão que vai se tornando cada vez mais atraente, diante das dificuldades que os empreendedores negros encontram em relação à falta de oportunidades no mercado de trabalho, de mobilidade na carreira e por aí vai. 

Na trajetória de afroempreendedores, identificamos diversos dilemas que funcionam como “muros invisíveis” que dificultam o desenvolvimento de seus negócios.

Muro da decisão

Para os empreendedores negros, na tomada de decisão, há a expectativa da “virada de chave”.

Para além da expectativa de retorno financeiro a curto prazo, os empreendedores negros também se questionam se levarão “o jeito da coisa” antes mesmo de começar.

Sentir-se apto a ser um empreendedor é uma ambição quase tão importante quanto a previsão de contas que poderão ser pagas neste investimento.

 

Muro do desconhecimento

Tornar-se empreendedor “na marra” é ainda mais difícil sem referências próximas

Após ter se arriscado e ter seguido adiante com o plano de ter o próprio negócio, as contas não param de chegar. Além disso, a insegurança em navegar em águas completamente desconhecidas prevalece: será que vende? E se vender, dá para lucrar e pagar as contas de forma saudável? E mais: vai chegar o dia em que a conta PJ ficará 100% separada da conta PF?

Muro da superação

Entender, de ponta a ponta, como tocar o próprio negócio

Embora já estejam vivendo na prática a gestão do próprio empreendimento, daqui em diante os empreendedores negros enfrentarão o desafio de manter toda a cadeia funcionando, especializar-se ainda mais no segmento do seu negócio e compreender como/para quem é melhor pedir ajuda.

 

Muro da solidão

Caiu a ficha: tudo está nas mãos de uma pessoa só

Os planos de sustentabilidade para o negócio passam pela dura constatação que seu crescimento depende de uma pessoa só: o eupreendedor. De forma solitária, essa pessoa tenta não só dar conta da gestão do seu negócio, como também quebra a cabeça pensando em como o seu negócio pode apoiar financeiramente sua família.

 

Muro da prosperidade

Não tem jeito: para escalar, é preciso investimento

Da contratação de funcionários, passando pela expansão logística ao aumento de produção, não adianta: é preciso investimento financeiro.

Neste ponto, não tivemos mudanças nos dados sobre acesso ao score de crédito por requerentes negros no Brasil. Essa continua sendo a maior barreira para empreendedores negros que desejam alçar o passo de expansão dos negócios.

Diante desse contexto com muitas complexidades, se destaca a maior das dores vivida pelos afroempreendedores: morrer antes mesmo de nascer. Assim como essas pessoas estão mais sujeitas a vulnerabilidades e violências, seus negócios também passam pelo mesmo risco. Atuar nos pontos de virada ao longo da jornada pode ser decisivo para que os negócios ganhem fôlego e tenham a oportunidade de prosperar.

Essa dor fica ainda mais evidente ao analisarmos o nível de frustração durante a jornada empreendedora entre brancos e negros: para os negros, ela tende a durar mais tempo — mesmo depois de os negócios estarem bem estabelecidos. Outro ponto relevante é que antes mesmo de tirar a ideia do papel, os afroempreendedores têm menos chances de sucesso do que seus pares brancos. Fatores como estrutura familiar, referências próximas, facilidade de acesso à empréstimos e estabilidade financeira são decisivos para os brancos empreenderem sem, efetivamente, sentir o peso de ter que fazer o negócio dar certo porque sua família depende disso. Enquanto isso, os empreendedores negros seguem como o arrimo da família.

Essa perspetiva de empreender para conquistar a liberdade pode não ser tão verdadeira ao olharmos para os empreendedores negros que, diferente dos brancos, não se sentem empresários ou donos de negócio antes mesmo de começar. Esse sentimento os acompanha durante toda a jornada, o que dificulta o equilíbrio entre as obrigações de gerir o próprio negócio e cuidar da casa, da família, de pessoas próximas que estão passando por dificuldades de modo geral.

Para minimizar as diferenças entre aqueles afroempreendedores que desejam ter um negócio e os que conseguem mantê-lo, é relevante que combatamos a discriminação, o racismo e as desigualdades tanto no mercado de trabalho quanto fora dele. O apoio emocional para a construção da autoestima de forma coletiva também é indispensável, porque, como observamos, estes são também os fatores que dificultam a trajetória dos afroempreendedores, sobretudo no início de sua caminhada.

 

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